quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Gavião




Gavião lá no mato fez um ninho
e na galha pousou
Foi subindo de galha por galha
Foi ali que o Amor me deixou

Mas quando voa tristonho o gavião
também trago no peito essa dor
Mas não voa tristonho o gavião.


Foi subindo de galha por galha
Foi ali que o Amor me deixou

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobre o Tempo






Lá fora nem chuva, nem sol, nem dia, nem noite.Lá dentro roupas jogadas, papéis em branco, caneta tinteiro inutilizada, chaves perdidas.Na cozinha, o vapor do chá fumegante ao fogão, música calma ao fundo, como uma chuva cristalina a tilintar.

Silêncio! Não te assuste, este é o teu refúgio, não enfraquece, não dói. Fique parado, respire, sinta, feche os olhos, Reflita.

Há um mundo lhe esperando lá fora .

domingo, 24 de outubro de 2010

24 de outubro


Frida Kahlo



Os dias vão passando em uma calmaria atípica, de infinita palidez aos invisíveis.
Por vezes dança lasciva e seduz ardente, reinventa-se inteira do não dito e se fantasia de invisibilidades. Todas essas coisas se chamam ausência. A ausência é água corrente, incompreendida e na mais perfeita paz. Eu romantizo a ausência, por ser incapaz de amar qualquer coisa que seja.


Não entendo o que escrevo hoje. Eu romantizo culpas.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Eunice



Eunice,








É difícil dizer o desconforto que sua ausência me causa. Tão escassos têm sido nossos encontros que acabo por me esquecer do ponto em que paramos.
Sinto-me apedrejado pelos dias e pelos quilômetros, e perseguido por imagens torpes. Os minutos são longínquos, acostumei a liquefazer muitos desejos, minhas ânsias e impulsos, estarei acostumado as tuas crises,estarei sempre cobrindo tua fúria.
Mas tudo torna- se tão distante quando começam os segredos.







J.F



Um Sopro de Vida



AUTOR - Eu sou um autor de uma mulher que inventei e a quem dei o nome de Ângela Pralini.Eu vivia bem com ela. Mas ela começou a me inquietar e vi que eu tinha de novo que assumir o papel de escritor para colocar Ângela em palavras porque só então posso me comunicar com ela.

Eu escrevo um livro e Ângela outro: tirei o supérfluo.

Eu escrevo à meia noite porque sou escuro.

Ângela escreve de dia porque é sempre luz alegre.

Este é um livro de não memórias.Passa-se agora mesmo, não importa quando foi ou é ou será esse agora mesmo. É um livro como quando se dorme profundo e se desvanece o sono, e do sonho fica apenas a certeza de que se dormiu e se sonhou. Faço possível para escrever por acaso. Eu quero que a frase aconteça. Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível.Eu me expresso melhor pelo silêncio. Expressar-me por meio de palavras é um desafio.Mas não correspondo à altura do desafio. Saem pobres palavras. E qual é mesmo a palavra secreta? Não sei e por que a ouso? Só não sei porque não ouso dezê-la?

Bem sei que estou no escuro e eu me alimento com a própria e vital escuridão. minha escuridão é uma larva que tem dentro de si talvez a borboleta? Está tão escuro que estou cego. Eu simplesmente não posso mais escrever. Vou deixar por uns dias Ângela falar. Quanto a mim acho...

"Clarice lispector UM SOPRO DE VIDA"




segunda-feira, 18 de outubro de 2010

(in)consistências




-Quero compartilhar com você um segredo: meu tiro foi singelo. Tentei dizer a você sem que soubesse. Punha-me vivo naquela infinita trama, uma agonia intensa começou a me lacerar. Tudo por causa dessa mania de deliciosos revanchismos que permite a façanha necessária. Meus arriscados verbos podem agora encerrar em prisão de afetos. Agora gravo seus olhos tênues, com ternura. Sua mudez segura em andrajos. Como se esperasse milagre, pedindo a Deus para se erguer e sair. Foi a morte que se aconchegou em seus braços e pediu silêncio.

Uma certa cumplicidade da escuridão privada. E nunca há polícia nem bom senso por perto.

É cálido aceitar os pecados dos mortos.

domingo, 17 de outubro de 2010

Evaporemos


Um dia desses inventei a dúvida. Inventei que seria libertadora de palavras, contrariando a previsão acabei submissa a elas. Estava imersa em caducidade. Por isso estou aqui agora, quero as palavras como quero o arrogante mistério das flores.

Mas havia o medo. Medo da minha pretensão, medo do meu secreto universo, medo da tonalidade de minhas palavras, medo que elas não me deixassem dormir (quem já apalpou os dizeres sabem que eles são perigosos).

No entanto há tanto tempo para ser luz.



Criemos aqui miudezas.